Festas Feiras de Sementes Crioulas: resistência e reexistência diante dos desafios
Palavras-chave:
Território, Desterritorialização, Reterritorialização, Agrobiodiversidade, Movimentos sociaisResumo
A propriação das sementes está inserida em diversas racionalidades que envolvem modelos de produção e consumo aplicados às atividades agrícolas e de exploração dos recusos naturais, que promovem sua mercantilização e o monopólio da agrobiodiversidade. Neste contexto, nas Festas Feiras de Sementes Crioulas, emergem práticas de resistência e luta por territórios, onde diversos movimentos sociais se articulam em torno das sementes. Investigou-se as feiras como espaços de construções de resistência e de reexistência diante das dinâmicas da agricultura hegemônica. Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa qualitativa e descritiva, realizada entre 2020 e 2024, envolvendo observação participante em Festas Feiras de Sementes Crioulas no Paraná, Brasil. Com base em narrativas orais e observações diretas, identificou-se que esses espaços desempenham um papel crucial na preservação das sementes crioulas, valorização da agrobiodiversidade e construção de práticas agrícolas agroecológicas. A pesquisa evidenciou que as feiras se configuram como práticas territoriais em oposição às forças de desterritorialização da agricultura moderna, de espaços de resistência aos desafios à re-existência a partir dos desafios numa força reterritorializadora pela semente crioula. Assim, os resultados desta pesquisa apontam que as feiras são uma expressão concreta de luta e resistência, que promove as pluridiversidades dos territórios.
Downloads
Referências
ALBAN ACHINTE, Adolfo. Pedagogías de la re-existencia. Artistas indígenas y afrocolombianos. In: WALSH, Catherine (ed.). Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir, TOMO I, Ediciones Abya Yala. 2013, p. 443. Disponível em: https://agoradeeducacion.com/doc/wp content/uploads/2017/09/Walsh-2013-Pedagog%C3%ADas-Decoloniales. Pr%C3%A1cticas.pdf. Acesso em: 30 jun. 2022.
ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 4. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2004.
ARENDT, Hannah. A promessa da política. 2. ed. Trad. Pedro Jorgensen Jr. Rio de Janeiro: Difel, 2009.
ARENDT, Hannah. A condição humana. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.
CASTRO-GÓMEZ, Santiago; GROSFOGUEL Ramón. Prólogo. Giro decolonial, teoría crítica y pensamiento heterárquico. In: CASTRO-GÓMEZ Santiago; GROSFOGUEL Ramón (eds.). El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Iesco-Pensar-Siglo del Hombre Editores, 2007. p. 9-23.
CASTRO-GÓMEZ, Santiago. Los avatares de la crítica decolonial. Entrevista a Santiago Castro-Gómez. In: Tabula Rasa, n. 16: p. 213-230, Bogotá, Colombia, Jan-Jun 2012. Disponíve em: http://www.revistatabularasa.org/numero-16/11entrevista-castro.pdf. Acesso em: dez. 2024.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
ESCOBAR, Arturo. Lugar da natureza e a natureza do lugar: globalização ou pós-desenvolvimento? In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais – perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: Clacso, 2005. p. 69-86.
ESCOBAR, Arturo. La invención del desarrollo. Popayán: Universidad del Cauca, 2014.
ESCOBAR, Arturo. Sentipensar con la tierra: nuevas lecturas sobre desarrollo, territorio y diferencia. Medellín: Universidad Autónoma Latinoamericana, 2014a. Disponível em: https://biblioteca.clacso.edu.ar/Colombia/escpos-unaula/20170802050253/pdf_460.pdf. Acesso em: 25 jan. 2024.
ESCOBAR, Arturo. Territorios de diferencia: lugar, movimientos, vida, redes. Popayán, Colombia: Envión Editores, 2010.
ESCOBAR, Arturo. Territorios de diferencia: la ontología política de los ‘derechos al território’. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Curitiba, v. 35, p. 89-100, dez. 2015. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/made/article/view/43540. Acesso em: 20 jan. 2024.
FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, Hubert L.; RABINOW, Paul. Michel Foucault: uma trajetória filosófica para além do estruturalismo e da hermenêutica. Trad. Vera Porto Carrero. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. p. 231-249.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
GROSFOGUEL, Ramón; GALCERÁN, Montserrat; SUÁREZ-KRABBE, Julia. Introducción a Foucault y la colonialidad. In: Tabula Rasa. Bogotá, Colombia, n.16, p. 39-57, Jan-Jun 2012. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/396/39624572003.pdf. Acesso em: dez. 2024.
GROSFOGUEL, Ramón; MIGNOLO, Walter. D. Intervenciones descoloniales: una breve introducción. In: Tabula Rasa, n. 9, p. 29-37, jul-dic, Bogotá, Colombia, 2008.
GROSFOGUEL, Ramón. El concepto de ‘racismo’ en Michel Foucault y Frantz Fanon: ¿teorizar desde la zona del ser o desde la zona del no-ser? In: Tabula Rasa. Bogotá, Colombia, n. 16, p. 79-102, Jan-jun 2012. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S1794-24892012000100006&script=sci_arttext. Acesso em: dez. 2024.
GROSFOGUEL, Ramón. La descolonización de la economía política y los estudios postcoloniales: transmodernidad, pensamiento fronterizo y colonialidad global. In: Tabula Rasa. Bogotá, Colombia, n. 4. p. 17-48, Jan-jun 2006.
LUGONES, Maria. Colonialidad y género. Tabula Rasa. Bogotá, n. 9, p. 73-101, jul.-dic. 2008. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?pid=S1794-24892008000200006&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 24 nov. 2021.
MIES, Maria; SHIVA, Vandana. Ecofeminismo: teoria, crítica e perspectivas Barcelona: Icaria Editorial, 2014.
MIGNOLO, Walter D. Desobediencia epistémica: retórica da modernidad, lógica de la colonialidad y gramatica de la descolonialidad. Buenos Aires: Ediciones del Signo, 2010. (Colleción Razón Política)
MIGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Trad. Ângela Lopes Norte. In: Cadernos de Letras UFF – Dossiê: Literatura, Língua e Identidade, n. 34, p. 287-324, 2008.
NASCIMENTO, Evandro Cardoso; DENARDIN, Valdir Frigo, QUADROS, Diomar Augusto. Pesquisa-ação, pesquisa participante e investigação-ação participativa: semelhanças e diferenças. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, 46(3), 2024. Disponível em: https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/article/view/71874/751375159004. Acesso em: 20 jul. 2025.
OLIVEIRA, Rosângela Doin de, OLIVEIRA, Manoel Doin de. Pesquisa social e ação educativa: conhecer a realidade para poder transformá-la. In: BRANDÃO, C. R. (Org.). Pesquisa participante. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. p. 17-33.
PEREIRA, Edir Augusto Dias. Resistência descolonial: estratégias e táticas territoriais. Terra Livre, [S. l.], v. 2, n. 43, p. 17-55, 2017. Disponível em: https://publicacoes.agb.org.br/terralivre/article/view/615. Acesso em: 20 jan. 2024.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Amazônia: encruzilhada civilizatória, tensões territoriais em curso. IPDRS/CIDES – UMSA, 2018.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. De saberes e de territórios: diversidades e emancipação a partir da experiência latino-americana. GEOgraphia, Revista da Pós-Graduação em Geografia da UFF, Niterói/RJ, Ano VIII, n. 16, p. 41-55, 2006.
ROQUE, Tatiana. Como a matemática poder servir para pensar o estatuto da resistência, mesmo, e sobretudo, quando ela não fala de resistência? In: COCCO, Giuseppe; PACHECO, Analise; VAZ, Paulo (Orgs.). O trabalho da multidão. império e resistência. Rio de Janeiro: Gryphus: Museu da República, 2002. p. 59-68.
SAQUET, Marcos Aurelio. Saber popular, práxis territorial e contra-hegemonia. Rio de Janeiro: Consequência, 2019a.
SAQUET, Marcos Aurelio. Por uma abordagem territorial. In: SAQUET, Marcos Aurelio; SPOSIO, Eliseu Savério (Orgs.). Territórios e territorialidades: teorias, processos e conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009. Disponível em: https://www2.fct.unesp.br/docentes/geo/bernardo/BIBLIOGRAFIA%20DISCIPLINAS%20GRADUACAO/PENSAMENTO%20GEOGR%C1FICO%202017/2-LIVRO%20SAQUET%20E%20SPOSITO.pdf. Acesso em: 17 jan. 2024.
SAQUET, Marcos Aurelio; SANTOS, Roselí Alves dos. Geografia agrária, território e desenvolvimento. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
SAQUET, Marcos Aurelio. O território: a abordagem territorial e suas implicações nas dinâmicas de desenvolvimento. IGepec, Toledo: Unioeste, v. 23, p. 25-39, 2019b. Disponível em: https://e-revista.unioeste.br/index.php/gepec/article/view/22719. Acesso em: 20 dez. 2021.
SAQUET, Marcos Aurelio. A descoberta do território e outras premissas do desenvolvimento territorial. Rev. Bras. Estud. Urbanos Reg., São Paulo, v. 20, n. 3, p. 479-505, set./dez. 2018. Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/5655. Acesso em: 01 nov. 2021.
SAQUET, Marcos Aurelio. Singularidade: um manifesto a favor da ciência territorial popular feita na práxis descolonial e contra-hegemonica. Rio de Janeiro. Consequência, 2022.
SCOTT, James C. Los dominados e el arte de la resistência: discursos ocultos. 1. reimp. Trad. Jorge Aguillar Mora. México, 2004.
SCOTT, James C. Exploração normal, resistência normal. In: Revista Brasileira de Ciência Política, n 5. p. 217-243, jan.-jul., Brasília, 2011.
SHIVA, Vandana; PANDE, Pooman; SINGH, Jitendra. Principles of organic farmin: renewuing the earth’s haverst. Navdanya. Nova Deli, India, 2004.
TOLEDO, Victor M. Agroecologia. In: KOTHARI, Ashish (Org.). Pluriverso: dicionário do pós-desenvolvimento. São Paulo: Elefante, 2021.
WALSH, Catherine. Estudios (inter)culturales en clave de-colonial. Tabula Rasa, Bogotá, n. 12, p. 209-227, 2010. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1794-24892010000100013&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 31 jan. 2024.
WALSH, Catherine. Prefacio. In: Pedagogías decoloniales: prácticas insurgentes de resistir, (re)existir y (re)vivir, TOMO I, Equador: Ediciones Abya-Yala. 2013. p. 19-22.
WALSH, Catherine. ¿Interculturalidad y (de)colonialidad? Gritos, grietas y siembras desde Abya Yala. In: DINIZ, A. Garcia; PEREIRA, D. Araujo; ALVES, L. Kaminski (Orgs.). Poéticas e políticas da linguagem em vias de descolonização. Foz do Iguaçu: Universidad de Integración Latinoamericana, 2017.

Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Luciana Galvão Martins, Valdir Frigo Denardin

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons (CC BY 4.0) que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.
- Autores(as) podem realizar acordos contratuais independentes e adicionais para a distribuição não exclusiva da versão do artigo publicado nesta revista (por exemplo, incluí-lo em um repositório institucional ou publicá-lo em um livro) sempre evidenciando que o trabalho foi publicado primeiramente na Revista IDeAS.