A humanidade e o coronavírus: um olhar antropológico sobre nós, a natureza
Palavras-chave:
Natureza e sociedade, humanidade e animalidade, perspectivismo, cosmologias indígenas, pensamento ocidentalResumo
Este artigo é um exercício teórico sobre as diferentes perspectivas com que ocidentais e ameríndios percebem a pandemia do coronavírus e seus efeitos sobre a natureza e a humanidade. Resgatando as Considerações filosóficas de Bakunin (1871), promovemos um diálogo entre sua concepção de natureza e das fronteiras entre o humano e o não humano, construídas em oposição a alguns dos princípios básicos da filosofia ocidental, e leituras antropológicas recentes que buscam em filosofias ameríndias explicações alternativas às causas da pandemia. O perspectivismo ameríndio e sua ontologia relacional contribuem para a superação da oposição entre natureza e humanidade característica da ciência ocidental, promovendo uma visão de natureza em que todos os seres, inclusive os humanos, estão interligados e são parte de um todo maior; em que cada espécie vê a si mesma como humana, de modo que devemos negociar constantemente os nossos atos predatórios para que o equilíbrio ecológico seja mantido.
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